The True Human Costs of Cheap Footwear

O Verdadeiro custo humano do calçado barato

Os Verdadeiros Custos Humanos do Calçado Barato

O preço de um par de sapatos pode parecer irresistível. Promessas de moda acessível e descontos atraentes levam-nos a acreditar que estamos a fazer um bom negócio. No entanto, o que está escondido por trás das etiquetas de preço tão baixas? Frequentemente estão histórias de exploração, condições de trabalho desumanas e impactos devastadores para os trabalhadores em toda a cadeia de produção.

Exploração de Mão-de-Obra: A Realidade Oculta

Grande parte do calçado barato é produzido em países como Bangladesh, Índia, China e Vietname, onde os custos de produção são reduzidos devido aos baixos salários e à falta de regulamentações laborais. Trabalhadores em fábricas de calçado enfrentam dias de trabalho extenuantes, frequentemente com mais de 12 horas, em condições inseguras e insalubres.

De acordo com um relatório da Clean Clothes Campaign (2019), apenas 2% dos trabalhadores da indústria têxtil e de calçado global recebem um salário digno para sustentar as suas famílias. Em Bangladesh, um dos maiores exportadores de produtos de moda, os trabalhadores recebem cerca de 32 euros por mês, enquanto o custo de vida é estimado em, pelo menos, 85 euros mensais. Na Índia, é comum que os empregados ganhem apenas 0,5 a 1 euro por dia.

Impactos na Saúde dos Trabalhadores

Substâncias químicas tóxicas, utilizadas no tratamento de materiais e na produção de couro, afetam gravemente a saúde dos trabalhadores. De acordo com a Human Rights Watch, empregados das indústrias de curtumes estão expostos diariamente ao cromo VI, uma substância carcinogénica que pode causar cancros, problemas respiratórios e danos permanentes à pele.

Da cidade de Kanpur, na Índia, conhecida como um dos maiores polos de curtumes do mundo, chegam relatos de taxas de cancros de pele e pulmão acima da média. As comunidades próximas também sofrem: estudos mostram que rios e fontes de água potável nas proximidades dessas indústrias estão contaminados com metais pesados, colocando em risco a saúde de milhares de famílias.

Trabalho Infantil e Escravidão Moderna

Infelizmente, o trabalho infantil ainda é uma realidade na produção de calçado barato. Relatórios da International Labour Organization (ILO) estimam que mais de 160 milhões de crianças estão envolvidas no trabalho infantil em todo o mundo, e uma parte significativa delas trabalha na produção de bens como calçado.

Adultos, em situações de extrema vulnerabilidade, podem ser vítimas de escravidão moderna. Segundo o Global Slavery Index (2023), a indústria do vestuário e calçado é uma das que mais utiliza práticas de trabalho forçado, muitas vezes em empresas subcontratadas, difíceis de monitorizar pelas grandes marcas.

Muitas delas alegam não ter conhecimento das condições nas suas cadeias de fornecimento. Contudo, um estudo publicado pela Fashion Transparency Index (2022) mostrou que apenas 30% das marcas divulgam informações detalhadas sobre os seus fornecedores, tornando difícil avaliar as condições reais de trabalho nas fábricas.

Além disso, auditorias e certificações, embora necessárias, nem sempre são suficientes para garantir mudanças reais, pois as violações laborais podem ser escondidas durante inspeções. A Worker Rights Consortium (2023) revelou que práticas como falsificação de documentos e coação de trabalhadores, para omitir abusos, ainda são comuns.

As Alternativas Éticas

Os consumidores têm o poder de mudar este cenário, optando por marcas que priorizem práticas éticas e transparentes. Marcas de calçado ético e sustentável investem em materiais alternativos, salários justos e condições de trabalho seguras. Embora esses produtos tenham um preço mais elevado, eles refletem os custos reais de uma produção responsável.

Iniciativas como a Fair Wear Foundation e a Better Cotton Initiative estão a pressionar por maior transparência e condições de trabalho dignas na indústria. Comprar menos, escolher melhor e cuidar do calçado para prolongar a sua durabilidade são ações que contribuem para reduzir a demanda por produtos baratos e descartáveis.

O calçado barato pode parecer uma oportunidade no momento da compra, mas o preço real é pago pelos trabalhadores invisíveis da cadeia de produção, que sacrificam a sua saúde e dignidade. Cabe a cada um de nós questionar a origem dos produtos que consumimos e pressionar as marcas a adotar práticas mais humanas e transparentes. Afinal, o custo humano da exploração não deveria ser o preço do nosso conforto.

 

Referências:

  1. Clean Clothes Campaign: www.cleanclothes.org
  2. Human Rights Watch: www.hrw.org
  3. Ethical Trading Initiative: www.ethicaltrade.org
  4. Organização Internacional do Trabalho (OIT): www.ilo.org
  5. Global Slavery Index: www.globalslaveryindex.org
  6. Fashion Transparency Index: www.fashionrevolution.org
  7. Worker Rights Consortium: www.workersrights.org

Imagem: Hope for Justice

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